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Quem é Julia Tuleski na fila do pão histórico

  • Foto do escritor: Julia Tuleski
    Julia Tuleski
  • 16 de set. de 2024
  • 3 min de leitura

 Se me perguntarem quando começou minha paixão pela moda histórica, não sei responder com certeza. Pode ter sido na infância assistindo filmes de época e fantasia, ou na adolescência quando tive meu primeiro contato com a cultura gótica e descobri o que era moda alternativa, não consigo fixar um ponto de partida com precisão. Mas minha jornada na costura histórica começa em meados de 2018 quando descobri o famigerado canal no YouTube da Bernadette Banner.

  Até então eu não sabia da existência da costura histórica, que havia um ramo de pesquisa e costura dedicados a resgatar as técnicas de costura e modelagem de séculos atrás e muito menos que haviam pessoas usando essas roupas no dia a dia. Bernadette Banner foi minha porta de entrada nesse mundo, acompanhando ela descobri outros como Zac Pinsent, Cath Hay e American Duchess. A primeira pesquisadora brasileira que comecei a acompanhar foi a Modista do Desterro, sua pesquisa sobre indumentária e a sociedade de época, junto com minha primeira leitura do livro A  history of costume de Carl Köhler, foram o que me fizeram cair de vez na toca do coelho da costura histórica. 

  A primeira peça que costurei totalmente do zero foi uma saia usando referências de fotos de 1930. Na época eu já flertava muito com a moda vintage dos anos 30/40. Olhando para essa saia hoje ela realmente não está com o melhor acabamento, costuras tortas e sem finalização, a barra não totalmente reta, mas na época (e até hoje) foi um grande orgulho para mim e eu usava aquela saia o tempo todo. Hoje ela já não se encaixa mais no estilo de roupas que visto, e também não me serve direito, mas continuo usando ela como uma anágua em dias frios. Essa saia é um marco na minha trajetória da costura, gosto de olhar para ela e ver o quanto evolui nos últimos anos.

Com o passar do tempo abandonei os anos 30/40, mas minha paixão pela moda e sociedade da primeira metade do século 20 continuou. Atualmente meu foco de pesquisa se mantém na moda feminina de classe média /alta do período eduardino (1900-1910), me estendendo um pouco até 1918 e também peças específicas da moda da última década do século 19. Estudar esse período me dá a vantagem de ter registros fotográficos da época e além de peças em acervos de museus, ter também peças em ótimo estado de conservação circulando em brechós para poder estudar.

  Não gosto muito de me prender ao “historicamente correto”. Trabalho adaptando materiais e técnicas à minha realidade e ao que tenho disponível para trabalhar, tendo sempre em mente qual é a finalidade do projeto, se é algo destinado a realmente estudar e replicar técnicas de costura ou simplesmente algo para eu ter o que vestir no dia a dia. Vejo a costura histórica como algo mais do que simplesmente recriar uma peça da mesma forma como ela era feita anos atrás, para mim também envolve entender como ela era feita, o contexto em que era usada e saber se adaptar para conseguir resultados parecidos usando o que você tem disponível. Afinal, trabalhar com o que se tem já é algo bem historicamente correto. 

  Hoje consigo realizar meu sonho de me vestir com as roupas que sempre sonhei ter. Passei pelo processo de adaptação de sair da moda vintage, algo um pouco mais “discreto” aos olhos de hoje, para abraçar completamente a moda eduardina no dia a dia. Consegui montar um guarda roupas com peças que podem ser usadas para compor trajes tanto eduardinos quanto do final do século 19, uma versatilidade que facilita muito minha vida. Tive até meu momento de fama na TV depois de ser filmada no ônibus e o vídeo viralizar nas redes sociais.

 Mudar meu guarda roupas foi também um processo de autoaceitação, quando comecei a usar roupas eduardinas foi quando olhei no espelho e comecei a realmente me reconhecer como quem eu era de verdade. Foi um grande processo para uma pessoa tímida conseguir sair em público com roupas que querendo ou não chamam mais atenção, mas com o tempo aprendi a lidar com essa questão. E depois de 4 anos usando moda histórica diariamente (com todas as camadas de roupa inclusas) posso afirmar que é uma experiência bem diferente de usar roupas modernas, mas por incrível que pareça sinto muito mais conforto usando roupas históricas, e sair em publico já não é mais um problema para mim.

Transformar o que antes era um hobby em um trabalho, tanto de pesquisa independente quanto envolvendo a criação da minha marca, Miss Julia Ateliê, foi também outro sonho saindo do papel. Consegui colocar em prática meu ateliê de costura e bordado com peças de inspiração histórica. Fico muito feliz de poder estar compartilhando meu trabalho e meus conhecimentos com o Costura Histérica daqui para frente. 


12 Comments


costutasdeontem
Sep 30, 2024

Ler a historia de cada um é uma experiencia saborosa porque, apesar de estarmos unidos pelo gosto pela costura histórica, cada um tem uma vivencia muito particular de como chegou até aqui e isso é muito enriquecedor e muito interessante. Adorei ler seu relato.

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Donna Aquino
Donna Aquino
Sep 20, 2024

Amei saber mais sobre a Julia, me inspirou muito 😍

Parabéns a todos os envolvidos 💓

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Guest
Sep 20, 2024

Amei saber mais sobre a Julia, me inspirou muito 😍

Parabéns a todos os envolvidos 💓

Edited
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nfsantos.ctb
Sep 18, 2024

Parabéns Júlia, 💖👏🏼

Que delícia de texto, adorei conhecer mais da sua jornada, obrigada por partilhar conosco! 🥹 Você é muito importante na minha história com a comunidade Costura Histérica e inspiração para a costura histórica. Vai ser incrível poder acompanhar sua coluna 🤎


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Guest
Sep 18, 2024

Maravilhosa demais. Que texto incrível

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