Costuras de ontem: vestuário para fins recreativos
- Costuras de Ontem - Luana Bragança
- 25 de set. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 26 de nov. de 2024

Sou Luana Bragança, e no TikTok, Instagram e Youtube vocês podem me encontrar no Costuras de Ontem. Meu período favorito é o século XVIII, especialmente sua segunda metade. A princípio, meu interesse em roupas do passado era apenas uma curiosidade que podemos ter ao assistir filmes e séries de época ou de fantasia sobre como o pessoal do figurino pensavam e construíam aquelas peças tão diferentes das atuais. É somente a partir de 2016, por meio das redes sociais, que começo a ver pessoas que não eram atores nem atrizes vestidas em roupas iguais as de épocas passadas que elas mesmas fizeram.

Inicialmente, apesar do interesse que os trajes me despertavam, confesso que tive minhas dúvidas em relação às motivações desta atividade me perguntando se aquilo não passava de coisa de europeu ou estadunidense saudosos de tempos antigos que só eram bons para um determinado grupo social? Como, durante um bom tempo, sempre eram estes estrangeiros os que via não tive como não questionar sobre suas motivações e crenças em relação ao passado ao se dedicarem a tal hobby. É difícil para alguém de fora não fazer associação entre este tipo de vestuário e o atroz período colonial e pós colonial brasileiro e também de todo o continente Americano, já que, na maior parte do tempo a ocupação destes territórios foi feita por pessoas vindas da Europa vestidas com essas modas.
Mesmo receosa, decidi não me precipitar e acompanhar mais atentamente para julgar as coisas corretamente. Comecei a seguir perfis especializados que me pareceram bacanas, e também hashtags que traziam variados resultados e a ler blogs sobre o assunto e a partir daí pude olhar com mais tranquilidade sobre a prática e isso me ajudou a entender que fazer/usar peças assim não é sobre endossar e nem fechar os olhos para as práticas e crenças tenebrosas que houveram e que existem diferentes tipos de pessoas desfrutando de um hobby muito interessante.
Portanto, eu fui uma espécie de Elizabeth Bennet (da Costura Histórica), pois a princípio tive certo preconceito por julgar que aquilo era sobre orgulho de tempos e de uma sociedade cheia de práticas condenáveis, mas depois de conhecer melhor as coisas, hoje, tal qual o Sr. Darcy, amo ardentemente este maravilhoso passatempo. Agora, a Costura histórica é para mim uma válida atividade de expressão pessoal e de apreciação estética ligada à construção de roupas de diferentes épocas que não tem relação com a romantização do passado.
De lá para cá já se passaram oito anos mas tem apenas dois anos que comecei a costurar de fato, e isto porque apesar de consumir frequentemente conteúdos sobre assunto me senti mais conectada à atividade depois de descobrir que haviam pessoas daqui que também faziam e se vestiam com roupas de outras época e que suas peças e trabalho de pesquisa eram de altíssima qualidade. Ter pessoas daqui me foi importante porque eles entendem nossas circunstâncias históricas passadas e atuais, além de lidarem com mais tranquilidade com os caminhos que a maioria das vezes teremos que tomar e adaptar para fazer as coisas acontecerem. Esta conexão deu mais paz às minhas angústias e receios e confiança para tentar também.
Em meu caso, aprecio a materialidade da roupa: ver, tocar, experimentar. Por isso, minha vivência em Costura Histórica se centra no fazer para entender como a roupa é construída, encaixada no tecido e montada e no vestir, que é o modo pelo qual podemos entender o impacto do traje sobre a corporalidade e isto tanto para os trajes das consideradas elites quanto para os da classes trabalhadoras (especialmente estes!). Mas não pensem que sou purista em relação a métodos e técnicas de confecção e nem em relação aos materiais no sentido de que estes devam ser sempre similares aos do passado com suas fibras naturais e técnicas de estamparia, pelo contrário, estou nessa mais pela recreação dentro do possível do que pela recriação inflexível.
Por causa disso, mesclo métodos e técnicas antigas com atuais se julgar necessário, uso ferramentas modernas sempre que isso me ajudar a ganhar tempo, adquiro materiais que nem sempre tem suas fibras 100% similares aos de antigamente, mas sim as que meu bolso me permite arcar para que meu nome não vá parar na lista de devedores no Serasa. E é com essa mentalidade que tenho trabalhado nas coisas que já fiz e nas que pretendo fazer. Desta maneira, busco equilibrar as coisas da melhor maneira possível, sempre considerando minha realidade financeira, o conhecimento e habilidade prática que possuo naquele momento e a disposição de tempo e ânimo, e, felizmente, tem funcionado satisfatoriamente para mim.
Desde que aprendi nunca antes tinha sentido tanta vontade costurar como tenho tido agora e isso mesmo quando passo raiva com alguma modelagem ou técnica de costura. A costura histórica foi uma porta de entrada para um universo de conhecimento sobre a história, a sociedade e a cultura de diferentes épocas. Ao confeccionarmos estes tipos de roupas, estamos não apenas reproduzindo estéticas do passado, mas também compreendendo as nuances sociais, as condições de vida e as tecnologias existentes naquele momento e isto me encanta.
Seu trabalho é admirável Luana, fico feliz de te ter por aqui.
Ass. Juliana Lopes
Bacana a reflexão da Luana. Gostar de arte, literatura, vestimentas de outras eras não significa que a gente gosta/compactua das ideias atrasadas destas eras. Ótimo post e lindos os corsets das fotos.
Ahh obrigada!! Também estou muito feliz e animada de estar com vcs! Não esperava ser tão bem recebida assim!
Luana, obrigada por partilhar (eu tive mini surtos com a referência de O&P), que maravilhosa!
Parabéns 🥹🥰👏🏼
Compartilho do mesmo sentimento da nossa colega Duane, como é incrível participar de uma comunidade com pessoas tão talentosas e que admiro tanto. 💖😍
Fico muito feliz de estar na mesma comunidade de pessoas que tu . <3