1790 - Um ano para virar a casaca!
- Arthur Adams
- 13 de nov. de 2024
- 7 min de leitura
No final do século XVIII uma nova peça vira padrão de associação de status, qualidade e nivelamento da sociedade - Claro, enquanto falamos de roupa masculina -
Depois de quase um século inteiro, foi apenas a partir do último quartel do século do rococo que podemos ver uma transformação em uma das partes centrais do traje naquele período.
A casaca vinha tendo diversas mudanças desde 1750 - Levando em consideração o antigo traje completo a francesa de mangas largas e corpo amplo - O novo tipo de casaca que vinha dessa evolução do JUSTCORP - parte do traje que viria a ser o colete, mas que a estrutura popular usada por muitos trabalhadores, fosse com mangas ou sem, foi gerando a estrutura da casaca.
Falar sobre CASACAS e sua origem é uma diversão - Uma vez que você comece a notar cada um dos pequenos detalhes que foram evoluindo você compara ano a ano, decada a decada e percebe a distribuição não só de requinte, na visão dos mais abastados. Mas também as inúmeras referências que foram se vinculando por profissoes, militares, padrões culturais e mesmo trajes populares.

1793 - Mensch mode Riepenhausen
Sim! Podemos resumir que a casaca do século XIX veio de composições de casacas do final do século passado usadas por marinheiros e advindos de trajes de caçada/equitação (Não associando esses trajes a mesma coisa, já que todo o evento "caçada" é algo que podemos abordar em outro momento e como ele mudou alguns trajes).

Richard Kempenfeldt - 1782 - Casaca dula semi aberta.
O que podemos destacar nesse momento entre 1770 e 1800 é a construção de um traje que é símbolo de status numa sociedade centrada na disposição já abalada naquele momento das classes, onde por muitos motivos começou a ter inspirações em trajes cotidianos e populares em suas peças usadas no dia a dia ("dia a dia" porque ainda no meio mais abastado, militar e corte havia rigidos processos para você estar em certos ambientes).
O resultado dessa visão superficial que podemos ter comparando esses dois momento entre 1760 e 1790 é simplificação da construção da casaca em quantidade de tecido em contrapartidada de inovações texteis e técnicas de alfaiataria, a remodelagem das costas e mangas na busca de um traje mais justo e a grande variedade de cortes, estruturas e efeitos na mesma silhueta. Além de todo um cenário social e político que trouxe referências militares para o traje popular como mangas,colarinhos e muitos, muitos botões.

Esquema de corte de 1780 para casaca e breeches

Esquema de corte francês de 1760/1765 - Casaco, breeches e colete com mangas.
Em meio a esse mapa que estamos traçando veremos ainda um fenomeno que mereceria um texto próprio, mas não podemos deixar de citar nesses passos rebeldes que nossos amigos do passado travavam - a ANGLOMANIA de 1770. Uma série de jornais e artigos da época mostra a preocupação que se colocava sobre as gerações mais jovens obcecadas com os estilos do homens além do canal - A Inglaterra nesse moemnto vivia uma transição lenta entre a cidade e o campo - Esse estimo pela casualidade Anglaise começou a dominar os filhos de militares, classe média e comerciantes. Uma contra reforma quase que se alastrou pela França em pedido patriótico pelo retorno dos estilos de 1760. Não teve jeito. Como sabemos, o estilo a inglesa de trajes sobrios, cavalos, caçadas e um novo ideial de masculinidade regeria o novo século que assistia as perucas com pó, bordados complexos e extravagancia francesa sucumbir.


Traje à inglesa e à francesa entre 1788/1790.
Um ponto a dar atenção dessa transição é ter em plano um avanço gradual e por vezes menos linear do que imaginamos quando falamos em trajes populares. Isso é, Enquanto referências militares ou comuns marinhas eram usadas em certas regiões; em outros pontos da Europa e Brasil essas referências poderiam ser variadas. No Brasil muitos mercadores e comerciantes usavam jaquetas (short coats), na Na inglaterra eram associados a navegantes, na França ás populações intermediarias e estudantes e na Austria/Suiça muito visto em campesinos. Eram peças ligadas a atividades que precisavam mais liberdade corporal. A própria casaca de equitação relacionadas a essa atividade usual entre os ingleses também vem de uma forma diferente de usar o antigo traje a francesa com a frente ampla abotoada para trás facilitando a subida no cavalo e usadas por alguns Holandeses - Naquele momento e naquela situação existe algumas referências sobre esse uso, mas não é generalista. Não podemos afirmar que somente por esse motivo os ingleses começaram a usar a casaca para equitação menor ou resultou na diminuição gradual durante o tempo. Mas essa é uma divagação com referências existentes que pode gerar um texto próprio sobre a evolução do traje pelo uso e contrução.


Retirado do "Costumes de Different Pays, 'Marchand d'Agneaux des Landes de Bordeaux" e em comparação " Retrato de Charles Louis Borbon" Classes sociais diferentes em mesmo período podem ter distinções diferentes de moda. Em ponto jovens de idades similares em diferentes posições. PS. Veremos em breve artigo sobre variações de indumentária em classes sociais.
DESTAQUES QUE CONSTITUEM UMA TÍPICA CASACA DO PERÍODO.
Observações gerais sobre casacas de 1780 a 1795 - Então período da revolução e que "estabiliza" a estética tardia oitocentista. Tendo em vista peças de classe média e populares e sem adentrar em algumas subculturas que merecem um olhar especial como Uncroyables,macarronis, molly's ou os ditos men of fashion.

Reprodução casaca popular 1790/1800 em linho. Colarinho alto e fechamento duplo.
COLARINHOS ALTOS - E quando falamos de altos aqui é alto mesmo! Os colarinhos começam a aparecer por volta de 1750 em alguns trajes militares masculinos e aos poucos vem tomando parte do traje em casacas de forma bem tímida arredondados e depois com popularização de trajes com fechamento duplo em 1760/70 eles acompanham as lapelas - Que nesse momento ainda eram utilizadas fechando e formando duas colunas no traje. Fato que o colarinho logo precisou ficar mais rígido e exigindo mais estrutura para não se armar - A união de colarinhos duplos entre 1785 e 1790 resulta em uma das silhuetas masculinas mais icônicas dessa fase. Primeiro colarinho rígido dando suporte ao segundo colarinho cortado com/sem ângulo para dar melhor caimento a peça que fica sobre os ombros e emoldura o pescoço sustentando o rosto que fica ornado pelos acessórios e cravats. Além disso esse espaço que dá tanto enfoque ao rosto ainda poderia ter um destaque a mais com um estilo que fazia o colarinho em outras cores. Uma casaca preta poderia ter o colarinho vermelho ou ainda uma vermelha poderia ter o colarinho preto, entre tantas outras variações.


Em detalhe - lapelas altas de trajes de 1790/1800

LAPELAS - O traje militar em suas mais diferentes facetas tinha um ponto em comum com as peças que inspirariam as demais produções do fim do século - Uma ampla fronte de botões que criavam duas colunas imponentes na guarnição do torso - Pouquíssimas referencias no dão essa experincia de ver o traje formal usado de maneira mais despojada (Vide retrato de Richard Kempenfeldt acima) que resultaria nas lapelas formosas daquele período. Esse fase foi uma das mais ricas na alfaiataria - Com perdão pelo trocadilho - Uma revolução em formas, construção e usos. Não era a primeira vez dessa parte do corpo ter tanto foco, mas com certeza há uma distinção em como o final do século XVIII coseguiu ornamentar essa região antes ocupadas apenas pelas rendas, bordados e gravatas.
Alguns destaques são as lapelas amplas, desenhadas, escalopadas e entre tantas variedades que antescederam quem dominaria o século XIX - A ponto "N".
Alguns tipos de lapelas variadas do final do século XVIII

Reprodução casaca 1793 com colarinho alto e lapela com punhos a manière.
PUNHOS - Pelo mesmo caminho de construção que tivemos com as lapelas amplas, colarinhos altos e chamativos aqui caminhamos lentamente entre os grandes botões, muitos botões junto com punhos muito justos e por fim esconder os botões. Brincadeiras a parte o corte de encontro no pulso teve carcelas pensadas ainda muito baseadas nas antigas mangas do início do século, ainda que distante em tamanho a ptoporção parecia ser a mesma. Novamente nossos pontos ficarão entre o militarismo, a corte decadente e por fim a estravagância do fim do século.
Conjunto de referências oficiais de peças de 1785/1795 com punhos fechamento superior.
Em primeiro momento teremos esse desligamento com a ideia do punho roliço ( permanecendo em algumas pecas de sobrecasaca e trajes formais) de meados do século XVIII indo em direção ao punho la maniere - Usado entre militares e roupas populares entre 1750 - Esse punho depois poderá ser visto em uma série de jaquetas femininas também. Momento que podemos observar sem elitismos a variedade de decorações que mesmo trajes populares tinham, com uma vasta complexidade e meios de expressar profissões, técnica e decorações em seus trajes.

Peça original de 1770/1780 com punhos a maniere.
A partir de 1770/1780 podemos considerar popular os fechamentos com inúmeros tipos de carcelas diferentes. Desde as inspiradas a inglesa até as francesas desenhadas, os estilos ficavam evidentes ornando ou não com o restate do traje e dando grande palco para eles que vão literalmente brilhar até fim do século - Os botões. E eles mudaram muito. Viu? Desde muitos pequenos indo a muito grandes - Decorados com linhas (thread covered bottons) e principalmente em metail como bronze e prata.

Reprodução de casaca curta ( jacket) a estudantina ou a escocesa - partindo da original do scotish society of London de 1799.
Algumas casacas do período que reproduzi - algumas mais populares com contrucao mais simples e outras mais completas.
Esse foi uma viagem entorno das casacas do final do século XIX e a construção de suas evoluções dentro da " árvore genealógica" de suas decorações nesse momento tão turvo em referências e que particularmente me fascina muito. Estava muito ansioso para poder falar sobre esse período que mudou tantas peças no armário masculino e influenciando o feminino também. Ficarei muito feliz em saber o que você achou e sua sugestão para algum post futuro. Juntos podemos ir mais longe e evoluirmos cada vez vez mais! Esse é um period que amo muit e esper que com essa introduca voce se apacone como eu me apaixonei por 1790 [ isso que nem entramoos em sobrecasacas e acessórios haha]. Um abraço do seu amigo, Arthur Adams.
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